Futrica Econômica

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As leituras que me desafiaram a escrever estão circulando pelo Facebook e tratam do velho dualismo do Estado Interventor e do Estado Liberal.

Defendendo um Estado Interventor, meu ídolo da comédia, Gregório Duvivier; contra ele, o site Libertarianismo.org, cujo autor chama-se Rodrigo da Silva.. 🙂 Achei o último texto muito interessante.. 😀 Apesar de alguns fatos não terem sido abordados, tais como: de que maneira ter liberdade quando nem se tem dignidade (comida, educação e saúde)? É possível lutar pela liberdade, deixando de lado a igualdade?

O menor número de ações afirmativas e regulações de mercado em países “ricos” pode ser apenas uma consequência do estágio já alcançado e que torna prescindível uma maior intervenção de um Estado Social e não, um meio pelo qual se chegou a esse ponto. Será que esse tal de Estado Mínimo seria adequado para a nossa realidade de país subdesenvolvido (não acredito na falácia do “em desenvolvimento”)? Além disso, país rico não é o mesmo que país bom para se viver, com qualidade de vida. O índice mostrado pelo autor do texto é do PPP (Purchasing Power Parity ou Paridade do Poder de Compra) que se relaciona à totalidade do produto interno e é totalmente diferente de um índice de IDH, por exemplo. De acordo com o PPP, o Brasil é a 7a maior potência do mundo, o que não corresponde em nada com nosso desenvolvimento social.

Eu acho que esse é o pecado do pensamento neoliberal: é muito radical. Liberdade é, sem dúvida, imprescindível para que uma sociedade cresça, mas o que seria um mercado livre? Um mercado sem ações afirmativas? Um mercado sem direitos trabalhistas (China)? Um mercado sem regulação, sem proteção à concorrência? Será que a própria Lei protetora da concorrência não seria uma forma de regulação estatal? E a proteção às patentes? Não surgem apenas em virtude de uma atuação estatal? Ou será que a intervenção pro empresário estaria dentro da concepção liberal de liberdade, enquanto intervenções pro dignidade (como o bolsa-família) seriam apenas o reflexo da politicagem populista e assistencialista que faz as pessoas ficarem preguiçosas?

Colocar todo tipo de intervenção estatal no mesmo saco é simplório e reducionista, para não dizer ignorante.

Ninguém tem liberdade se falir pelo abuso de empresas mais fortes, se morrer de fome, se não puder tratar sua doença ou se não souber pensar e para isso é que servem as intervenções estatais, mesmo que apenas regulando a economia ou dando as condições mínimas para um povo prosperar com liberdade. A grande questão não é haver intervenção estatal ou não. Atualmente, não há Estado Mínimo (por si), principalmente entre nós, do subdesenvolvimento. Os próprios norte-americanos (liberais por essência) regulam sua economia sempre que necessário. A questão relevante é “como”? Como o Estado pode promover os direitos individuais e sociais? E acho que a resposta a essa questão está longe do dualismo preconceituoso entre ações positivas e negativas do Estado. Talvez devamos abrir mais nossos horizontes e enxergar os modelos econômicos (capitalismo, socialismo) não como fins em si mesmos, mas como meios de se alcançar a Liberdade, a Igualdade, a Solidariedade, enfim, a Dignidade Humana. Por isso, entendi a opinião do Duvivier (que só ganhou mais ainda o meu respeito), a opinião de que o Estado Mínimo (puro e simples) pode não ser a resposta que procuramos. Alguns de seus conceitos podem ajudar, mas não sejamos reducionistas.

Acho que os neoliberais de carteirinha ainda não conheceram o conceito de Estado Social.

3 respostas para “Futrica Econômica”.

  1. […] Dizem que futebol, religião e política são assuntos sagrados. Uma vez que começado o debate, é confusão na certa. Entendo futebol e religião como fortes candidatos a desavenças de pensamento, porque eles são tópicos que discutimos com o sentimento, e não com a razão. Já a política é uma questão (ou deveria ser) de se debater com a razão. No entanto, basta alguém expor seu ponto de vista diferenciado que começa a polêmica. Digo diferenciado quando defendemos uma política mais social. Nessa semana Gregório Duvivier publicou em sua coluna na folha um texto criticando não só o Estado mínimo, como também o pensamento daqueles que defendem. Não foram nem 10 minutos para que a guerra cibernética começasse. O texto que indicamos para você ler é mais que um complemento do texto de Gregório, pois ele fala com a razão e menos (sem) ironias. Para refletirem sobre esse tal de Estado mínimo, com vocês o texto de Natália Damasceno. […]

  2. Certamente que essa história de Estado Mínimo já se vem comentando à muito… que seria um Estado Mínimo? Até aqui já tentei entender o que querem dizer; mas, nada…! Quando a ciência e tecnologia estiver em seu cume, certamente que se pode ter na verdade esse Estado. Reduzir-se o número de comandantes sem comandados, e que na verdade o povo tenha seus governantes como síndicos de nosso condomínio. Daí, todas as respostas virão à tona, e esse País será mais justo com seus condôminos.

  3. No meio desse dualismo reside o fiel da balança: a sociedade. Em democracias recentes como o Brasil, as pessoas não se reconhecem no Estado, pois as instituições ainda representam um passado autoritário e clientelista. No imaginário popular o Estado é o inimigo a ser derrotado, contornado ou abusado, jamais é tido como uma extensão de nossas próprias vidas – um bem público a ser zelado, mantido e aperfeiçoado. A sociedade brasileira não se vê como uma coletividade, se vê apenas como uma associação de indivíduos que busca garantir algumas vantagens comuns. Nós brasileiros não aprendemos ainda o exercício democrático de fato, a maioria encara a democracia como se fosse uma imensa roda da fortuna onde se pode tirar a sorte grande empregando o mínimo de esforço possível. Essa perspectiva social pervertida gera fenômenos cada vez mais comuns dentro da opinião pública: a violência como prerrogativa do cidadão; armamento da população civil; voto facultativo; reverência a um passado ditatorial; instituição da pena de morte; redução da maioridade penal; privatização da esfera pública; isso tudo não passa de abobrinha demagógica para acalentar o ego sistematicamente frustrado dos brasileiros. Sociedade e Estado precisam de terapia de casal, só depois disso é que se pode decidir o regime de bens desse casamento.

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